Os corredores amarelos, numa palidez mórbida, a grama num verde musgo, portas brancas como de UTIs… o silêncio na voz dos caminhantes fazia de todas as tardes uma composição fúnebre da minha falsa existência.
Transeuntes num andar bêbado e distraído, gesticulando e contando os causos diários como epopeias. Não havia nada além dessa angustiante mobilidade estática.
Certo dia, certa reunião, mais precisamente, adentrara alguém, tocara alguém… numa dessas portas de UTI, entrando numa das salas de cor amarelo-pálida, travestindo uma nova cor, um novo elemento se somara ao meu acanhado arco-íris.
Essa nova cor, o roxo, trouxe muito além do seu significado, era um roxo de comportamento verde, era a cor da espiritualidade com espírito de esperança…
Essa cor não era estática, tampouco muda, tímida sim… mas não era tumular, dava-me vida…
Eu precisava dessa cor para compor o quadro que ouso chamar de vida, busquei-a, então. Dia após dia, das mais variadas formas, até que ela pousou no meu aquarela, expulsando a aparência cadavérica das outras cores e fazendo vários contrates, a cada pincelada dela neste meu quadro.
Por vezes, o quadro ficou empoeirado, meio sem vida, mas o roxo sempre voltava, pra preencher as imperfeições, como um salva-vidas em socorro de um banhista distraído.
De todas as cores do meu aquarela, a única que não pode faltar é ela, pois é ela que move tudo que é estático, é ela que faz brilhar cada nuance, cada perspectiva que dá a profundidade certa dos meus mundos imaginários.
É o roxo que faz meu mundo cada vez mais azul celeste.